Vestígios

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ela fala, por mim.

Eu aceito.

“As melhores histórias que eu conheço são sobre amor. Amor que vence abismos enormes, supera todos os perigos e perdas, vive de coincidências inacreditáveis, navega sem balançar num mar de grandes certezas. Amor que é, simplesmente. E porque é, sem “talvez”, “será?”, e “e se…”, não sofre de nada, senão saudades e alguns desencontros.

Essas histórias não são minhas. Nem de pessoas que eu conheço. Sã as histórias inventadas de livros, filmes, novelas e músicas nas quais tudo é possível e acaba bem, sem grandes explicações, mesmo quando as coisas vão mal. São as histórias grandiosas que me pego querendo ter, comparando com as que vivo – e que, mesmo sendo bem comunzinhas, conseguem ser sempre muito mais difíceis de se resolver.

Mas acontece que amor não é sobre mágica, sorte, merecimento nem destino. Amor, venho descobrindo com o passar dos anos e das histórias reais, é sobre aceitação. Aceitar que, bem, não há magia. Aceitar que quem eu amo é imperfeito, e com freqüência não faz  o que eu gostaria. Aceitar que eu mesmo sou falha, complicada e com freqüência desaponto o outro. Aceitar que há dias bons, dias sem graça, dias realmente ruins. Aceitar que, por mais que faça planos, ensaie conversas definitivas e espere o melhor, eu estou sujeita ao incontrolável: a vida é imprevisível, as pessoas o são mais ainda, e as coisas não acontecem sempre do meu jeito.

Amor é sobre aceitar que não necessariamente o que eu acho de alguém é o que ele é de verdade. É aceitar que, por mais que eu peça, tente, queira, ninguém muda, se não estiver a fim, por conta própria. É também aceitar que não adivinhamos pensamentos: nem eu, nem o outro. Aceitar que discordamos muito e erramos bastante. Até aceitar que, por maior que seja o amor, uma relação pode fazer mal, e tenho que aceitar meus limites. E amor é, principalmente sobre aceitar que tudo – brigar ou tolerar, desistir ou insistir, ser feliz ou sofrer -  é minha escolha, minha responsabilidade. Se fiquei é porque quis, e não há a quem culpar.

À medida que entendo isso, lido melhor com minhas histórias. E, sabe, vou descobrindo que, com todo o esforço que é preciso, elas são muito melhores do que aqueles romances.  Porque são minhas. E o amor de verdade com todas as suas confusões, é a coisa mais extraordinária em minha vida. Me faz querer ser uma pessoa melhor, me dá esperança, me faz sentir viva. E eu aceito.”

Esse texto, escrito por Roberta Faria, integra o editorial da revista Sorria, n°6, de janeiro de 2009. Senti essa necessidade de compartilhar ele com vocês.

Porque eu acredito no amor. E eu aceito.

Seja ele do jeito que for.

18 comentários:

Paloma Flores disse...

Nossa, que lindo! E traduziu exatamente o que venho pensando esses dias. Acho que novela demais, filme demais, livro demais faz mal. A gente começa a achar que as coisas vão se resolver por mágica também. Que nossa vida também vai ser perfeita se só tivermos o esforço de sentar a bunda na poltrona do cinema e comer pipoca enquanto a vemos acontecendo. Como se nossa vida também fosse se resolver por mágica e, assim, fôessemos ser felizes para sempre.
Não, a vida depende de batalhas internas e externas todos os dias. E a felicidade não é para sempre. Temos que aproveitá-la enquanto a temos conosco, porque ela é muito volátil e passeia de casa em casa sempre.
Amor é mesmo aceitação. Do outro, de si próprio, da própria vida imperfeita e sem trilha sonora que levamos.
Nossa, me identifiquei muito com esse texto!

Thaís. disse...

Maravilhoso.

Unknown disse...

Linda!!!

que delicia de texto... nao há como simplesmente nao acreditar no amor...

beijos de saudades

Joyce C. disse...

Lindo texto!

Gostei do seu blog.


Beijos pra ti!

Jaya Magalhães disse...

Acreditamos. E aceitamos.

De mãos dadas, Tami.

O texto é lindo, tão lindo quanto se fosse teu. (:

Tu é o tremmarfofo, cara. Fico absolutamente idiota quando teus comentários chegam. Rs.

Um beijo doce, moça.

Monday disse...

Chapeuzinho, os lobos uivam quando querem fazer amor ... e os lobobos amam quando se encantam ...

Amor é encanto puro, não tem maiores explicações, muito menos porquês ...

Encanto é, simplesmente isso, um encanto, que te toca, mexe contigo e faz com que toda a magia de dentro da garrafa saia para fora e te deixe sim, amando ...

mesmo que um dia você cometa a insanidade de deixar de acreditar no amor, o encanto vai estar lá, te espreitando, só esperando a primeira baixa de guarda para falar no seu coração que você ficou brava com o sentimento errado ...

bjks

Glau Ribeiro disse...

Xuxuzito meu,

Que texto lindo. Não conhecia. Cheira coisa doce qualquer que dá água na boca né?

Daqui a pouco volto a acreditar.

"se ele existe,
que apareça,
dê ao menos uma pista
pra que eu possa acreditar
em um final feliz..."

Beeejo do tamanho do mundo!

Ricardo Rodrigues disse...

eu também acredito no amor, e preciso viver uma história assim... bjo... saudade

Larissa disse...

Eu também aceito.

Eu, Thiago Assis disse...

Sou eu quem preciso pedir aulas de escrita por aqui ^^

Quer uma outra "melhor historia" que fale de amor?
Leia o livro "Para sempre Alice"... tô terminado e tô gostando demais
^^

Ah, tbm aceito
(até procuro por um uhauhauhuhauhauha)

Junkie Careta disse...

Minga amiga mais doce da blogesfera,

Olha, faz tempo que eu não via uma declaração tão lúcida, tão palpável, simples e encantadora sobre esse tal amor. Certamente viver é melhor que sonhar,mesmo que doa, que sangre, que fira. O beijo na boca que um dia virou escarro(como disse aquele poeta originalíssimo)é muito melhor que aquele beijo imaginário, irreal, sem o gosto da língua, da química explodindo entre bocas famintas.

Andava com saudade daqui baby.

Grande beijo

Vanessa Cristina disse...

Ai Tamires, adoro quando encontro textos assim. A gente vive tão cheia das ilusões desse mundo, né? A maioria absorve que o amor tem que ser assim ou assado e acaba esquecendo o verdadeiro sentido que faz o coração bater acelerado, que tira o fôlego e irrita (ah, como irrita!) pra ficar tudo bem depois.


Eu sou apaixonada pelas imperfeições do amor! E ele tá perfeito do jeito que é.


Porque eu acredito no amor. E eu aceito. [2]

Junkie Careta disse...

Baby,
Junkie Careta convida os amigos para uma dose de vinho e outra de cicuta no Spleen Rosa Chumbo,porque amar pode doer.

Grande bjo

Rabisco disse...

Olá Tamires!
Sim, tudo o que é preciso para se estar preparado para amar é de facto estar preparado para aceitar...
Aceitar as qualidades, mas também os defeitos, aceitar os carinhos mas também as birras...

Mas eu coisa eu tenho vindo a aprender ao longo dos anos... Também na vida real existem os amores feitos de encontros e desencontros, de incríveis e quase inaceitáveis coincidências... todo esse amor das histórias, dos livros e das músicas existe sim... Eu serei a prova viva disso.
Não conheço o seu desfecho, o seu final... não sei se um dia terá um final feliz...talvez só no final da vida poderei responder a isso, ou talvez nem aí... Mas conheço uma história assim, real, sem final, mas com um verdadeiro princípio e meio...
Nessa história existe também muita dor...mas acima de tudo...muito sentimento.

Continua a acreditar no amor.

Beijinhos

Jaya Magalhães disse...

Não vem atualizar, não?

¬¬

Ton Owl {*v*} disse...

olha nem preciso falar nada o texto tirou as palavras da minha boca.
abraços tamires se cuida
ton owl

Glau Ribeiro disse...

Tô ficando com raiva dessa monografia que não te deixa fazer mais NADA! Prontofalei!

Rayane Cássia disse...

FLor, mais que texto lindo. Belo de verdade. Tão bom a gente ler e compreender, sentir, viver.

:)

beijos