Vestígios

terça-feira, 27 de abril de 2010

Céu de incertezas.

Ah, quanta estupidez sua, menina! – e assim é tua voz se misturando a minha.

Eu menti. Muitas vezes. Mais pra você do que pra mim: já me fingi malandra, de descrente, de fria e calculista. Sou quente e letrista. Será meu erro não confessar? Orgulho meu. Digo não a você, mesmo que o sim salte pelos meus lábios e escorra de encontro a essa tua boca tão sarcástica, tão sedutora. Já errei tanto! Todas aquelas letras embaralhadas nunca fizeram sentido, e eu sempre acabo por cometer o mesmo erro. Nossos sonhos possuem notas diferentes. Sonhas? Máquinas não. És uma máquina? Ás vezes parece, e às vezes me perco com as brechas que encontro pelo caminho, e que me faz te sentir carente, quase humano. Aquele que vibra, mesmo por dentro, com todas as partidas que me deixou ganhar. E que deixou apenas por deixar. 

- Eu nunca fui sensata ao teu lado.

De tudo, o mais bonito foi o teu sorriso. De soslaio, mas eminente. Quente. Ah, guardei-o pra mim. Fiz promessa pra dele sempre lembrar, mesmo que impossível fosse esquecer. No toca-fitas do carro, aquela mesma canção se repetia incansavelmente, e eu tenho alma velha quando me digo uma incerteza-certa-romântica sem começo ou fim. Na realidade, está sempre presente, incurável. Entre tantos jardins, flores minhas querem desabrochar logo neste teu terreno tão baldio, desprovido de vida.  Ingratas. Uma virtual conversa, uma saudade real. E já foram tantas conversas inacabadas, que o desejo de não havê-las começado nunca existiu: era um sentimento tão teimoso quanto eu. Um tempo bom aquele. Sem pressa, sem hora pra dormir, ou pra acordar – e se acordar preciso fosse, seria com você ao lado. Penso, talvez, que eu esteja errada. Quero desesperadamente estar. Por trás de tantos escudos, talvez haja alguém que acredite no amor, mesmo que esse não incendeie por mim. Já fiz tantas apostas também! Já perdi outro tanto, porque eu sempre aposto alto, e minhas fichas tem sido todas em vão. Posso até escutar teu riso, tuas palavras irônicas a me chamar da boba que sou. Insensatez minha.

Avisa lá que tô chegando, então. Avisa pra esse meu eu-lírico. Avisa que eu quero roubar essa moça e levá-la pra onde não deveria ter saído. Avisa também que ela não tem passagem de volta, e a ida foi tempestuosa. Avisa. Mas não esquece que quando ela se finge de fria, o calor do tal moço aí faz derreter. Avisa que ela tem asas, mas não auréolas. Avisa que insensatez é bom. Avisa que ‘esquecer da vida’ é exatamente ao contrário: é lembrar-se constantemente de como ela deve ser vivida. Só não deixe de avisar. Ela quer o avesso do inteiro, ela quer o arrebate final. Ela simplesmente quer. Avisa...

No nosso último vôo, uma das minhas asas quebrou. A dor insistente me emprestou o receio de viajar sob o alaranjado do pôr-do-sol, sombreando toda a paisagem infinita de norte a sul. No entanto, novamente apareceste, carregando aquele olhar decidido, uma voz deliciosamente rouca, pronunciando palavras medidas. Foi o antídoto para a cicatriz. Tuas asas foram as minhas. Em casa manobra radical, eu fechava os olhos e permitia que me conduzisses. Eu era só emoção, aprendendo a controlar minha vida num tabuleiro, agora, sem o teu cavalheirismo.

A cada casa colorida, um avanço com palavras em falso, e um crescente frio a nascer na barriga e subir pela garganta, daqueles desesperados durante a decolagem para uma viagem inventada. Em especial quando o cérebro envenena o corpo com adrenalina, misturando em doses perfeitas: medo e prazer. Na chegada. Foi o [des]encontro da imaginação com a razão. Era o silêncio elucidando o inexplicável. Sem cenas românticas, sem frases clichês, sem perguntas retóricas ou respostas alucinadas. [re]Nascia, ali, o sentimento. Adormecido. Atormentado. Amortecido. Desarmado. [diz]Amado.

Nenhum desmaquilante apaga essa ironia, misturada com tristeza, do teu rosto. A vida real é intolerável, querido? Talvez o sorriso limpo te faça humano. E o medo, como tantas vezes tu insististe em dizer, não faz parte do teu vocabulário. E a nossa fuga? Juntos! Mas em direções opostas. Não foi medo? Provavelmente dirás, secamente: Não! Sem voltar a pensar na pergunta, para não sentir o sangue quente correndo nas veias revelar todas as tuas dúvidas de ser humano. Esqueço, a realeza tem inspiração divina.

O teu Rei passeava pelo reino, desprotegido, tentando convencer a minha Rainha de toda a beleza de Pasárgada. Eu temi, alertei-a, mas o teu poder de persuasão sempre foi além de toda minha destreza com as palavras. Eu perdi! Ou ganhei? Xeque, rainha, mate, rei.

Com Jússia, minha irmã paraense.

Ps: Obrigada por ter aceito compartilhar comigo, anjo. Só posso dizer que teu carinho é sempre recíproco. Não poderia estar mais feliz. Foi o complemento mais que perfeito. Sonhos que se constróem juntos.

13 comentários:

Jússia Carvalho disse...

Quanta honra eu senti quando me deste teu texto para continuar. Quase não cabia em mim tanta felicidade. E achei que não fosse capaz de completar um texto tão perfeito. Obrigada pela confiança. Minha querida que tanto amo.

"Conversa virtual, saudade real".

João Moreira disse...

Olá minha querida,
É belo o texto e a troca ou cumplicidade de sentimentos que fluem nos vários sentidos, sejam eles quais forem, mas que sejam verdadeiros.
Fica bem
Beijos doces

Ricardo Rodrigues disse...

Ê saudade... quem anda mais sumido? tu ou eu? eu talvez nem tanto, mas a minha criatividade... deve ser a mística negativa do ano par... beijão

Junkie Careta disse...

Thammy,

Se o preço que tenho que pagar por ter vendido a alma para o sistema provisoriamente em detrimento de pagar algumas contas, for encontrar um texto com essa qualidade, eu venho aqui de ano em ano. Você sabe que eu sou exigente e esse texto não precisa de gentilezas ou cavalheirismo de crítico amigo para se afirmar como um texto de excelente qualidade.

Baby,não sei o que houve,mas, a qualidade de seu texto(que já era boa, a propósito)melhorou mais ainda. Você está mais livre, mais mundana e menos anjo, mais despudorada, mais sem amarras e confessional,e, isso fez um tremendo bem paea seus textos. Coisas como:

"Por trás de tantos escudos, talvez haja alguém que acredite no amor, mesmo que esse não incendeie por mim..."

"A cada casa colorida, um avanço com palavras em falso, e um crescente frio a nascer na barriga e subir pela garganta, daqueles desesperados durante a decolagem para uma viagem inventada. Em especial quando o cérebro envenena o corpo com adrenalina, misturando em doses perfeitas: medo e prazer."

"Já fiz tantas apostas também! Já perdi outro tanto, porque eu sempre aposto alto, e minhas fichas tem sido todas em vão".

eu, que também já fiz tantas apostas,todas sempre muito altas e atualmente tenho sido um loser,estou absolutamente feliz por ver seu talento aflorar cada vez mais, mesmo que a 4 mãos, ou 4 asas.

Não sei o que disparou isso, embora suponha que isso tenha a ver com amor.

Parabéns

Quero mais

Seu amigo e fã cada vez mais convicto

Junkie Careta

Glau Ribeiro disse...

Eu achei lindo. E sentia saudades.

Quando li, senti algo do tipo: Estou te despindo com as palavras, querido. Sei o que você sente. Sei o que você esconde. E talvez, não sei de nada, mas sei de mim. Senti uma constante negação de sentimentos que só deixavam cada vez mais claro qual era a essência. Tem como a gente mentir pra gente mesmo? [...]

E andar aqui me traz amor, Tami. Porque até nos meus momentos insanos de "foda-se a vida, vai pra puta que pariu, amor" você continuava a defender as coisas boas. A acreditar que tudo vai ficar bem. Porque é assim que tem que ser. Você sempre acreditou. Por isso, tanto amor aqui. Aí. E em algum lugar que a gente ainda não descobriu. Ou talvez já o tenha, mas não notou. A gente as vezes não nota o óbvio né?

Desculpa. Fugi do foco. Fugi do texto, mas deu vontade de falar. Sinto sua falta.

Glau Ribeiro disse...

EU TE AMO e não existe distância que consiga diminuir o meu sentir.

Não há.

Aline Aguayo disse...

Tamires, linda!!
Lindas palavras! Faz a gente sair por aí, vivendo cada palavrinha dessas!
Delícia de ler!!

beijo!

meus instantes e momentos disse...

que saudade de tudo aqui...
saudade dos teus textos, do teu modo inteligente de pensar, de escrever, de ser.
Que saudade de ti.
Maurizio

Cepa, Fernando Antunes Maciel disse...

Parabéns pelos seus textos, guria! Mto bons, mesmo!!!
Vou devagar, mas tô atualizando. ;) rsrsss
Bjão

Junkie Careta disse...

Tamíres,
Saudade de seus escritos baby.
Estou propondo um brinde aos meus amigos da blogesfera.Apareça com sua taça no spleen para celebrar comigo.

Apareça quando puder.

Grande abraço

Glau Ribeiro disse...

Será que dá pra vir aqui com mais assiduidade? Obrigada!





Sinto tanto sua falta. Tanto.

Junkie Careta disse...

Devidamente votado!

Átila Siqueira. disse...

Amiga querida, saudades de ti, muitas. Bom ver seus textos, lindos como sempre, como tudo o que você escreve. E bom ver que arrumou alguém para escrever contigo, e que pelo jeito tem o mesmo dom que o teu, de encantar com as palavras.

Lindo o seu texto, eu adorei.

Parabéns. Muitas saudades.


Um grande abraço,
Átila Siqueira.