Vestígios

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De estilhaços.

"Eu não caibo no estreito,

eu só vivo nos extremos." (Lispector)

Talvez eu não estivesse nos meus melhores dias. Talvez eu só estivesse ansiosa, esperando um olhar desesperado seu. Talvez se eu tivesse usado meu vestido mais bonito, talvez se eu me rendesse sempre. Talvez então a história fosse outra. Mas a minha teimosia é insistente, e tenho longas conversas privativas comigo mesma. Talvez se eu fosse mais dócil, menos arredia. Talvez. Talvez o tempo fosse outro, talvez a estação fosse o verão. Talvez se eu soubesse mentir, talvez se eu soubesse só te dizer sim. Talvez se eu mantesse os olhos fechados, talvez se eu só gostasse de ilusionismos. Talvez se eu não fosse tão pedaços de sonhos, mas tão infinitamente cheia de razão.

Talvez então eu seja toda feita de cacos. Cada caco esparramado que eu faço questão de juntar. Tenho bolsos diferentes, para guardar cada um deles, cada qual com sua história, desde o momento mais doce até o mais tórrido e desnudo com o qual pude me deparar. Cacos de metades inteiras, mas que cortam com a mesma voracidade. Ah, teus inteiros! Me deixam confusa porque já não sou fã de novelas com final-bonito-de-felizes-para-sempre. Também não gosto de mais ou menos, você sabe. Transito entre as extremidades dos momentos, e por isso meus cacos não tem se tornando paredes sólidas. São apenas cacos, e sou falha por isso? É assim que me diz. Talvez então se eu fosse outra. Talvez se eu não fosse apenas um pedacinho brilhante que corta, que fere, que deixa sangrar. E eu deixo porque meu orgulho não permite rendições.

Talvez se o meu caco fosse uma concha, linda e vazia perdida no mar. Talvez se essa soubesse amar. E eu não sei. Percebi que sou mais se, mais interrogativas, mais negativas, mais reticências, menos exclamações, nunca afirmativamente certa. Sou mais errada, mais bêbada, mais trêmula. Um vulcão a explodir na tua maresia.

Sou mais fogo, longe da brisa.

Sou o próprio fogo, talvez.

Que quebra o caco, que derrete o gelo. Mas nada sabe de amar, que nada sabe desse amor.

10 comentários:

Jússia Carvalho disse...

Esse texto tem tantos significados. Tantas interpretações. Tantas frases lindas que podem ser divulgadas aos quatro quantos do mundo.

Que frase mais linda:

"Talvez se eu não fosse apenas um pedacinho brilhante que corta, que fere, que deixa sangrar."

Que saudade eu estava dos teus textos. Eles me fazem tão bem.
Tu me fazes muitíssimo bem.
Vale tanto a pena esperar por cada linha aqui escrita nas mais lindas inspirações.

Glau Ribeiro disse...

Ebaaaaaaaa!! Qnd li seu tweet anunciando texto novo, vim voando!! Quanta saudade de ler vc, Xuh!!

E esse texto?? Acho q fala por si só. Não quero mais metade, Xuh. Nem talvez. Nem "se".

E suas palavras mais uma vez possuem o dom de me fazer pensar na vida, nas pessoas, no amor.

E não dá p deixar de acreditar tendo alguém tão doce qnto vc na minha vida!!

Ameeeei ler vc. E espero mais, sempre q o coração quiser falar!

Te amo!

Priscila Boltão disse...

"Talvez se eu fosse mais dócil, menos arredia. (...) Talvez se eu soubesse mentir, talvez se eu soubesse só te dizer sim. Talvez se eu mantesse os olhos fechados, talvez se eu só gostasse de ilusionismos."

Perfect, as always. Tu sempre me deixa sem palavras pra comentar.
Nice see you back. Fiz um blog novo "the stuff on my mind".

Bjs

Aline Aguayo disse...

Linda, como sempre!
Aproveito pra dizer que tem um MEME pra vc!

beijo!

Rabisco disse...

Adorei este texto!
Mexeu alguma coisa cá dentro...ou melhor, muitas coisas...
Tanto que ainda as estou a tentar colocar no lugar!

Obrigado!

Beijinhos

Rabisco disse...

Adorei este texto!
Mexeu alguma coisa cá dentro...ou melhor, muitas coisas...
Tanto que ainda as estou a tentar colocar no lugar!

Obrigado!

Beijinhos

Ronda disse...

Olá Tamires,

Sabe, para mim, o 'talvez' é uma palavra bastante presente. Às vezes, fico pensando como algumas decisões e acontecimentos diferentes poderiam ter mudado completamente o rumo da minha vida.

Abraços!

Carlos de Thalisson T. Vasconcelos disse...

Finalmente um blogspot interessante pela net. Muito bom. Seguindo aqui.

Carlos de Thalisson T. Vasconcelos disse...

Que texto incrível eu li aqui! Ora, ora, parabéns pela sensibilidade aguçada. Transmite muito bem o que pensa, sente e vive.
Parabéns.

Camila disse...

Talvez demais a faz alguem impotente de agir.